quarta-feira, 15 de junho de 2011

sobre a boa programação

A BOA PROGRAMAÇÃO


É ILIMITADA, trabalha com a possibilidade de todos os filmes, relaciona-se com
o cinema todo.

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Pergunta O QUE É PROGRAMAR.

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SALVA os filmes de se perderem num passado sem história.
Trabalha os preciosos fragmentos de um arquivo em constante formação.

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NÃO mostra reproduções.
Respeita a integridade dos filmes, procura a MELHOR cópia.
Projecta película em película, vídeo em vídeo, digital em digital.

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Transforma um filme pela articulação.
Não é temática. É TRAFICANTE.

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Trata O PASSADO COMO PRESENTE, aproximando ”as coisas que nunca
foram aproximadas e não pareciam predispostas a sê-lo”.

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Dá a ver, mostra de novo, revê .
Insurge-se contra a VERTIGEM da actualidade.

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Prefere o E em vez do OU

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INTERPRETA.
Faz e refaz a história do cinema. Escreve-a com os filmes.

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NÃO FAZ HOMENAGENS, FAZ RETROSPECTIVAS.

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Leva a ver, pela APROXIMAÇÃO e pelo DESCONCERTO, o que não se viu
e/ ou o que não se veria.

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Pensa COM os filmes e com as ligações que tece entre eles.

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TROCA as voltas ao espectador.

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É DISRUPTIVA, não quer construir um cânone, é aberta ao espanto.

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SUSPENDE temporaria e indeterminadamente sessões quando é
impossibilitada de se realizar.

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É provocada por um estado de coisas e ao mesmo tempo influencia-o.
Programa NÃO quando é preciso.

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Pratica o desalinhamento por perseverança;
é DESALINHADA para que se possa cumprir.

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É indisciplinada, inadaptada, não reconciliada.
NÃO ESPERA PARA VER.


por Inês Sapeta Dias, Sílvia das Fadas, Ana Eliseu e Inês Martins

O nosso silêncio

O Movimento de Espectadores da Cinemateca não está parado.
Estamos atentos ao não que a Cinemateca tem programado, com os ciclos
“A Cor do Dinheiro”, “Não” e “Um, Dois, Três”, mas as sessões continuam
temporariamente suspensas, continuam a faltar filmes, e a programação é
cada vez mais movida por critérios de actualidade e acessibilidade.

Depois das sessões que ocupámos em Maio, e enquanto esperamos pelas
directrizes do novo governo, criámos grupos de trabalho para pensar
o que é a boa programação, escrever uma carta ao Primeiro Ministro e
lançar uma petição. Os grupos estão abertos à participação,
bastando para isso enviar um e-mail para

sessaotemporariamentesuspensa@gmail.com

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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Fotos da "Sessão temporariamente suspensa"


Obrigado a todos os que estiveram presentes. Continuem a participar activamente neste movimento que é de todos, pela Cinemateca e pelo cinema.










sábado, 16 de abril de 2011

Manifesto do movimento de espectadores da Cinemateca

 Em Março, a Cinemateca Portuguesa cancelou treze sessões. Em Abril, fechou uma das suas duas salas. As cinco sessões diárias passaram para três. No total, foram canceladas cinquenta e nove sessões. O desdobrável da programação mensal, com textos que apresentam a história do cinema escrita a cada mês pela Cinemateca, transformou-se numa fotocópia A4 com a enumeração de títulos e horários. 
O trabalho de conservação do património cinematográfico nacional único e irrecuperável, em depósito no ANIM, está em risco.
Este movimento, civil e apartidário, surge em defesa do trabalho da Cinemateca e do ANIM. 

Cada cancelamento é um filme que não circula, uma imagem que não pensamos. Cada filme que não é preservado é uma memória apagada, uma ideia que não veremos.

A Portaria n.º 4-A/2011 impede que a Cinemateca tome decisões de forma autónoma sobre o seu funcionamento. Para o transporte de cópias de filmes ou no caso de avaria do seu material de conservação e restauro, a Cinemateca é obrigada a pedir autorização ao Ministério das Finanças para a contratação indispensável e inadiável destes serviços. O tempo exigido por este processo burocrático é inadequado à função específica da Cinemateca e boicota o serviço público. Uma avaria no ar condicionado necessário à conservação das cópias não pode ser reparada de imediato, um filme em língua estrangeira não pode ser legendado. O nosso país fica excluído da circulação internacional de filmes, restringindo-se ao limitado acervo do ANIM.
Apesar de não estar em causa, por enquanto, uma interdição ou corte, a Cinemateca está impossibilitada de aceder ao orçamento que lhe foi atribuído e fica obrigada a servir o fechamento do país. 

Este movimento de espectadores chama a atenção para o absurdo da aplicação desta Portaria à Cinemateca Portuguesa e pede uma revisão que vá ao encontro de um indispensável enquadramento do seu trabalho.

Convocamos uma manifestação de apoio à Cinemateca no dia 28 de Abril, às 21h, em frente às suas instalações, na rua Barata Salgueiro, n.º 39, em Lisboa.

Rectificação

Em rectificação da informação noticiada pela agência Lusa, e reproduzida no Diário de Notícias, Diário Digital, jornal Sol e site da TVI24, afirmamos, ao contrário do que foi publicado, que o debate convocado para as 19h30 do dia 13 de Abril, na Cinemateca Portuguesa, não foi um debate agendado pelo Bloco de Esquerda ou por qualquer outra formação partidária, tratando-se, sim, de um encontro organizado por um movimento espontâneo e apartidário de espectadores da Cinemateca Portuguesa. 
Tão-pouco se trata de uma reacção especificamente dirigida contra cortes orçamentais. 
É, sim, um alerta para o estrangulamento da actividade da Cinemateca, nas suas dimensões de programação e restauro do património cinematográfico. 
Este é um efeito da Portaria n. 4-A/2011, de 3 de Janeiro, que submete a  “parecer prévio vinculativo dos membros do governo responsáveis pelas áreas das finanças e da Administração Pública” a “celebração ou renovação de contratos de aquisição de serviços”. 
Dada a especificidade do trabalho desenvolvido na Cinemateca, que obriga ao regular recurso a serviços externos (manutenção, legendagem, transporte de filmes, etc.), esta Portaria está já a pôr em causa a preservação do património fílmico nacional, único e irrecuperável, bem como a programação de cinema. 
O sinal visível deste constrangimento é o encerramento de uma das duas salas da Cinemateca, que se traduz em 46 sessões canceladas no mês de Abril. 

Movimento de Espectadores da Cinemateca

sexta-feira, 8 de abril de 2011

E se a cinemateca vier a faltar? E se o cinema vier a faltar?

"As imagens só existem com o fogo da projecção. Contudo, é possível queimar as imagens ao interditar a sua projecção como um auto da fé de livros."
Marcel Hanoun 

Aos muito lá de casa a quem a Cinemateca importa,

e que lamentam as 13 sessões canceladas em Março e as 46 temporariamente suspensas em Abril, os filmes que não podem ser vistos porque os cortes no financiamento e a recente perda de autonomia -imposta pelo Ministério das Finanças- comprometem o transporte regular de cópias, o habitual programa estar reduzido a pobres fotocópias e o desdobrável apenas disponível on-line, e que lamentam e temem a interrupção do trabalho de restauro e o ANIM  estar em risco e com ele todos os filmes do nosso espólio cinematográfico, por haver quem no poder ainda se pergunte se o cinema é património, a quem os filmes possam vir a faltar,
encontro marcado na Cinemateca no dia 13 de Abril, à sessão temporariamente suspensa das 19h30, para pensar em formas de acção (projecções, manifestos, ocupações) pelo cinema que, no contínuo trabalho de coleccionar, preservar, documentar e apresentar, a Cinemateca permite existir.